domingo, 17 de março de 2013

O processo inflamatório

Estudos sobre a actividade das células imunitárias (incluindo células NK e leucócitos, ou glóbulos brancos) demonstram que estas estão no seu ponto alto quando seguimos uma alimentação saudável, o nosso ambiente é "limpo", e a nossa actividade física envolve todo o corpo (não apenas o cérebro e as mãos). As nossas células imunitárias também são sensíveis às nossas emoções. Reagem positivamente a estados emocionais caracterizados por uma sensação de bem-estar e sensação de união com aqueles que nos rodeiam.

Tal como as células imunitárias se preparam para reparar lesões, as células cancerosas precisam de produzir inflamação para sustentar o seu crescimento. Graças à inflamação que criam, infiltram-se em tecidos vizinhos, penetram na corrente sanguínea, migram e estabelecem colónias remotas denominadas metástases.

O processo inflamatório provocado pelo cancro é tão crucial que a medição da produção de agentes inflamatórios pelos tumores pode fornecer uma previsão do período de sobrevivência a muitos tipos de cancro (cólon, mama, próstata, útero, estômago e cérebro).

Desde os anos 90 que os oncologistas do Glasgow Hospital, na Escócia, têm vindo a medir os níveis de inflamação no sangue de pacientes com vários tipos de cancro. Os resultados têm demonstrado que os pacientes com menor grau de inflamação têm o dobro das probabilidades de ainda estarem vivos passados vários anos.

A medição destes marcadores é simples, e para grande surpresa dos oncologistas de Glasgow, constituem um melhor indicador das hipóteses de sobrevivência do que o estado geral de saúde no momento do diagnóstico. É como se o estado de inflamação crónica fosse um factor determinante da saúde, mesmo quando a inflamação não parece grave e não se manifesta por sinais detectáveis, tais como dores articulares ou doença cardiovascular.

Existem várias abordagens naturais capazes de bloquear a acção inflamatória. Um artigo da revista Science salienta, com alguma ironia, que toda a indústria farmacêutica anda à procura de medicamentos inibidores do NF-kB (Factor Nuclear kappa-B), factor pró-inflamatório do qual as células tumorais dependem em grande parte para o seu crescimento e alastramento, enquanto as moléculas conhecidas por actuarem contra ele já estão disponíveis. O artigo cita apenas duas dessas moléculas qualificadas como "low-tech": as catequinas, presentes no chá verde, e o resveratrol, presente no vinho tinto.

A descoberta do papel crucial que a inflamação desempenha na progressão do cancro é relativamente recente. Uma pesquisa na MedLine, a maior base de dados sobre artigos dedicados à inflamação publicados em inglês, mostra que o interesse científico ainda está numa fase de arranque.

Esta é uma das razões pela qual os passos que poderíamos dar para controlar o processo inflamatório raramente são mencionados nos conselhos que recebemos sobre a prevenção e tratamento do cancro. Para além disso, os medicamentos anti-inflamatórios existentes têm demasiados efeitos secundários para serem considerados uma boa solução.

No entanto, através de métodos naturais ao alcance de qualquer pessoa, podemos agir para reduzir a inflamação. Trata-se simplesmente de eliminar as toxinas pró-inflamatórias do nosso ambiente, adoptar uma alimentação anticancro, procurar o equilibrio emocional e satisfazer a necessidade que o nosso corpo tem de actividade física.

É pouco provável que os nossos médicos sugiram estes métodos. As alterações no estilo de vida não podem, por definição, ser patenteadas e, como tal, não são consideradas medicamentos, portanto não necessitam de receita médica. Isto significa que a maioria dos médicos considera que não pertencem ao seu foro. Portanto, só nos resta sermos nós a adoptá-las.

Resumindo, estimulando as nossas células imunitárias, combatendo a inflamação (através da alimentação, exercício físico e equilibrio emocional) e actuando sobre a angiogénese (proliferação celular em neoplasias), cortamos o mal pela raiz no que diz respeito à disseminação do cancro. Paralelamente às abordagens médicas estritamente convencionais, podemos fortalecer os recursos do nosso organismo. O "preço" a pagar é levar uma vida mais conscenciosa, mais equilibrada e, no fim de contas, mais bela (ver artigos neste blogue sobre Alimentação).

Adaptado do livro anticancro de David Servan-Schreiber

Informação pormenorizada (em inglês) no site do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center de New York, um dos mais conceituados centros de investigação de cancro em todo o Mundo: http://www.mskcc.org/research/lucille-castori-microbes-inflammation